VOLTANDO PARA LUTA
Sonhos e projetos de 2014 vs a realidade de 2020
Desde do meu último post em
abril de 2014 tive hora, por problemas de saúde, horas por vontade ou falta
dela, afastado dos temas educacionais mais gerais e por conta disso sem nenhuma
postagem neste blog. Contudo nestes tempos conturbados fica-me a triste conclusão
do quanto a situação educacional no país piorou, não que isso seja prerrogativa
única da educação, é mais um sintoma de uma enfermidade que ataca todas as instancias
do país, talvez observando o panorama mais geral, seja uma situação global em
que ideias negacionistas, anticientíficas, de cunho xenófobas e acima de tudo antidemocrática
se impõem no cenário politico mundial.
Mais e educação como ficou, façamos
o exercício imaginário de pensarmos que um educador foi congelados em criogenia
bem em meados de 2014 e subitamente ressuscitado bem no meio deste ano pandêmico
de 2020. O que esse pobre congelado terá que assimilar, como ele avalia as
mudanças e quais sonhos e projeto foram tão brutamente abortados:
O ano era 2014, estávamos nas
calorosas discussões da CONAE 2014 (Conferência Nacional de Educação), temas
como o combate a homofobia, reestruturação do Ensino Médio, novas concepções na Educação Infantil e talvez o tema mais
central que se fosse levado a diante mudaria significativamente o panorama
educacional do Brasil, o financiamento da educação pública, oriundos dos royalties
do pré-sal. Também estava em amplo debate as mudanças estruturantes que os
cursos de licenciatura e formação pedagógica deveriam realizar no intuito de um
melhor preparo dos nossos docentes. Neste contexto o PIBID (Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência) que financiava bolsas para futuros docentes
desde 2007 contava em 2014 com 90.254 bolsas, esse programa foi responsável por
oxigenar os cursos de licenciatura e pedagogia e por aumentar a autoestima dos
estudantes, contudo no decorrer do tempo e mesmo já em 2015 ainda no governo
Dilma começou a sofre cortes constantes, entre 2016 e 2018 cogitou-se seriamente
seu encerramento, atualmente o programa disponibilizou 30.096 mil bolsas.
Em relação aos polpudos financiamentos
que se pretendiam adentrar com os recursos do pré-sal esses evaporaram em
leilões e privatizações, as leis que deveriam regulamentar nunca foram votadas.
Contudo as coisas iriam piorar
nos anos subsequentes, pois além de um sistema que começava a ser estrangulado
por constantes cortes de verbas, um outro espectro que nossa geração só conhecia
pelos livros de história começaram a se erguer de seus sepulcros, a perseguição
ideológica a ideias educacionais, e para o estarrecer de nosso congelado educador,
este teria que ouvir e ler inúmeros insultos a figuras de proa da educação
nacional, como Anízio Teixeira e principalmente Paulo Freire, nosso patrono e lançado
atualmente como o causador maior do fracasso de nossa educação. Temas carcomidos e cheirando a mofo são ressuscitados
como o uso de castigos físicos, religiões confessas como disciplina, uso de símbolos
pátrios como hino e bandeira nacional como meios disciplinadores e por fim o mais
assustador dos fantasmas, a militarização do ensino.
Juntou-se a esse corolário de
bizarrices, perseguição a docentes, cunhou-se termos como “doutrinadores” ou “professores
comunistas”, o Movimento Escola sem Partido pretendendo impor seus tentáculos e
olhos famintos na sala de aula em busca de subversivos bolcheviques, e por hora
só não obtendo êxito devido a ação do judiciário em várias instancias.
A BNCC (Base Curricular
Nacional Comum) fruto de anos de intensos debates foi promulgada em meio a inúmeras
tentativas de retrocessos e com a afirmação do atual ministro da educação de
que se ele pudesse vetaria a Base.
No Ministério da Educação inúmeros
programas estão aos poucos sendo desmantelados ou funcionando com a mínima operacionalidade.
Neste contexto o Ensino Superior
foi um dos mais atingidos, com vultuosos cortes de verbas e ataques direto a
Universidades, faculdades e centros acadêmicos federais. Chegando a absurdos como
a firmação do próprio presidente da república de que a universidade pública não
realizada pesquisas, sendo ela na verdade responsável por quase 90% destas. Mais
o cumulo do ridículo talvez tenha sido a afirmação do Ministro da Educação de
que os institutos federais abrigavam laboratórios de metanfetamina e outras
droga sintéticas.
Para piorar somado a esse
dantesco quadro, vimos proliferação descontrolada e totalmente desregulamentada
dos cursos de formação docente via EAD (Educação a Distância) com formações
totalmente precária ministradas por instituições que proliferam como erva daninhas.
Neste contexto desanimador como estaria os sonhos e esperanças de nosso descongelado educador, será que o país que ele deixou em 2014 era melhor ao de hoje, ou lá estavam o germe que eclodiriam na atual situação em que nos encontramos. Acredito que nosso personagem pediu gentilmente para retornar ao sono criogênico e ser despertado em uma época um pouco melhor.
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