REFLETINDO A LEI
A OBRIGATORIEDADE DA
PRÉ-ESCOLA E OS DILEMAS DA IDENTIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Com a alteração da LDB
ocorrida em 2013, a legislação nacional estabelece a obrigatoriedade da
frequência de crianças a partir dos quatros anos, legislação que começa a ter
aplicabilidade a partir de 2016. Mais uma vez voltemos à discussão, que
inicialmente era dirigida ao ingresso das crianças com seis anos no Ensino Fundamental,
discussão que ainda não fora definitivamente resolvida, uma vez que as
preocupações de muitos educadores em que a antiga ultima etapa da Educação Infantil se converte-se em uma
antecipação compulsória do Ensino Fundamental, descaracterizando as
necessidades das crianças desta faixa etária. Infelizmente tais prognósticos em
alguns casos se tornaram verdadeiros, uma vez que escolas receberam os pequenos
sem as devidas adaptações, alunos foram transferidos das pré-escolas para
unidades do Ensino Fundamental no intuito de se liberar mais vagas nas
pré-escolas, sem que um projeto pedagógico consistente tivesse sido elaborado. Em
sala por vezes, professores acostumados a rotina do Ensino Fundamental se
depararam com crianças que algum tempo eram por eles qualificadas como
“imaturas” para a aprendizagem e agora tem que aprender. Onde isso ocorreu a
Educação Infantil perdeu, perdeu porque foi negligenciada ou jogada em esplendorosa
lata de lixo toda a expertise adquirida em anos de experiência. Não foi essa a intenção dos legisladores, não
foi aceitável a discussão que se avolumou uma vez que o ato legal tencionava
apenas garantir mais um ano de oportunidades aos escolares, pecou contudo em
não criar normas complementares e nem a despeito de toda a publicação federal,
estadual e de algumas boas iniciativas de alguns municípios, faltou preparação
da comunidade escolar, lembrando que a emenda na época alterou a Constituição
Federal, e por seguinte todas as Leis complementares, como a LDB, o Estatuto da
Criança e do Adolescente e até o Código Penal.
Agora salvaguardando a
nomenclatura de Educação Infantil, semelhante emenda abrange a
“obrigatoriedade” , uma vez que o direito já era contemplado desde a
Constituição de 1988, direito que era facultativo, e agora se torna obrigatório
, talvez aprendendo com os erros da primeira medida, as mudanças estão mais
estruturadas, levantando sim a debates mais profundos.
Estruturalmente nada muda, a
não ser para as prefeituras que agora serão obrigadas a atender a todos os
pequenos sob sua responsabilidade. Embora não receberão nenhum complemento
orçamentário da União, enquanto o Estado como ente federativo finge não saber
do assunto.
A maior preocupação de quem se
debruça sobre o tema é na perca de identidade da Educação Infantil, que sob o
manto da obrigatoriedade agora deveria “escolarizar” os pequenos, talvez
alfabetizar as crianças com quatro anos, semelhantes a alguns países orientais
como a China, que tem esse processo oficialmente iniciado com essa idade. Mais
claro nos esquecemos que seu sistema de escrita é outro, de que educação na
China é coisa milenar e de que o país vive sobre uma ditadura em que reflexões
profundas sobre a infância não são permitidas. Mais aqui não é a China, não
somos tão antigos, nem tão populosos e muito menos vivemos sob uma ditadura,
aqui se é permitido debates aprofundados, embora por vezes fiquemos só no
falatórios.
Debates a parte, a realidade
se constrói no cotidiano, nas salas de aula, com as tias, com os brinquedos
espalhados nos cantos da sala, com as mães que acordam cedo e por vezes
caminham horas para levarem seus filhos na escola, que ficaram noites nas filas
aguardando uma vaga naquela escola por acreditar que aquilo é importante para
seu filho.
Sim mais uma vez vamos abrir
as portas, vamos receber a todos, é lei. E a qualidade e o preparo? E claro e
dinheiro que vai bancar tudo isso? Foi o tempo em que acreditávamos que éramos
um país pobre, sim temos e temos o bastante, mais tais recursos estão ocultos,
desviados para setores nem sempre essenciais ao futuro do país.
Esperamos que a nova legislação seja a porta de
entrada para que nossas crianças, principalmente aquelas com menor opções,
tenha acesso as oportunidades escolares que lhe são garantidas pelo simples
fato de serem humanas
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