NUMA MANHÃ....
Era frio, por trás dos altos
muros e do pesado portão de ferro ouvia-se choros e constantes pedido
de clemência
e tentativas frustradas de negociações para poderem sair daquele lugar,
mulheres de cabeça baixa conversavam baixinho entre si, enquanto seus filhos
agarrados a suas saias ou blusas ficavam em silêncio observando. De repente a espera foi interrompida pelo barulho
do pesado portão que se abriu, lá dentro alguns já estavam em filas sendo
observado por severos olhos que estavam atentos a qualquer mudança na formação
ou qualquer fato que pudesse por desordem a disciplina ali estabelecida.
No fundo podia-se observar
alguns que choravam ou mesmo esperneavam e eram vigorosamente contidos pelos
que ali trabalhavam. De repente tal a amplitude de choro que um dos suplicantes
vomita, imediatamente é retirado, não o vemos mais.
As janelas são gradeadas por
pesadas barras de ferro, e mesmo as portas internas possuem grossos cadeados.
Ao olhar mais observador podia-se ver o sistema de monitoramento e alarme
discretamente espalhados por estratégicos cantos.
Logo as mulheres de cabeça
baixa com suas crianças são conduzidas até um corredor, não demora-se muito e
ouve gritos e até urros, algumas mães saem chorando outras sem expressão
nenhuma. Caminham rápido em direção ao portão, assim que passam ele se fecha,
da rua ainda se podem escutar choros abafados, gritos, mais é o silencio entre
um choramingo e outro que mais assusta.
Lá dentro nos escritórios o
secretário confere a lista da nova remessa, contabiliza com os que foram
despachados no ano anterior e os que ainda permanecem, sem dúvida o número
diminuiu, são os tempos.
Na cozinha o enorme panelão
esta fumegando, a cozinheira o mexe com uma colher de pau que mais se assemelha
a um remo. Pelos corredores escuta-se constantes choros, suplicas e clamor para
saírem dali, tudo em vão, com firmeza os pedidos são negados, alguns tentam
desesperados fugir mais quase sempre a porta esta fechada e mesmo que passem
por essa, os corredores são vigiados e mesmo assim se milagrosamente puderem
passar por eles incógnitos, terão o enorme portão, barreira intransponível.
O tempo custa a passar, mais a
hora da refeição chega, são separados por filas, fazem a higiene, alguns até já urinaram nas calças. No
amplo refeitório em fila eles pegam sua refeição. Alguns comem outros e
recusam. Logo uma ardida campainha toca, todos são conduzidos a um enorme pátio
o mesmo da entrada. Lá ficam ao sol por alguns momentos, mas novamente a campainha
toca, são novamente recolhidos ao som de estranhos hinos.
Novamente o tempo custa a
passar, alguns choram mais, outros se recolhem, poucos estão à vontade.
Contudo a campainha toda mais
uma vez, alguns tremem de medo, são ordenados a pegarem seus pertences, são rapidamente
organizados em filas e levados até o enorme pátio.
Lá se ouvem mulheres
sorridentes de braços abertos a dizerem:
- Ou queridinho mamãe veio te
buscar, como foi seu primeiro dia de aula na escolinha?
Comentários
Postar um comentário