Educação e suas inevitáveis contradições

 

Como diria o historiador Eduardo Bueno, trabalhar com educação no Brasil é um verdadeiro sacerdócio, uma grande prova de dedicação a uma causa. Nosso docente necessita trabalhar “contra” um estupido sistema, promovido por uma elite decadente que no entender do educador Anízio Teixeira, usava a educação como mero adorno, nunca precisando desta como forma de sustento, resultando em um ensino propedêutico, completamente alienado da sociedade e que até hoje reflete em um currículo nos últimos anos do ensino fundamental e médio, completamente neurótico exigindo dos estudantes uma gama de conhecimentos inúteis a qualquer profissão moderna.

Se no campo curricular e politico a educação se consome sobre suas próprias contradições, no campo pedagógico a situação não é melhor, ou mesmo pode ser considerada pior. A classe docente vem ao longo dos últimos anos se deteriorando, se é que algum dia teve alguns prestigio fora da cabeça de alguns saudosistas.

Opiniões pessoais à parte, qualquer pessoa que tenha um sério trabalho no setor educacional e tenha contato constante com o corpo docente de uma escola, pode observar o quanto essa classe profissional, não pode ser caracterizada pela sua união e vitalidade em aperfeiçoar-se. Nossos professores sofrem de um duplo mal em suas trajetórias escolares, por um lado são oriundos de uma escola deficiente, com uma formação ritualística que mal favorecia o livre pensar, criando com o tempo, adultos acríticos e passivos. Na outra ponta quando estes se graduam nas licenciaturas ou nas cátedras pedagógicas, enfrentam um currículo das instituições de ensino superiores que são verdadeiros monstros de erudição acadêmica. No seu caminho pelo curso superior os futuros docentes acompanham com estrema dificuldade as disciplinas ofertadas pela academia e quando finalmente chegam à frente das suas classes, com alunos de carne e osso, verificam que seus inúmeros trabalhos, seminários e inúteis estágios não serviram de nada.

Cabe agora a rede que o contratou, forma-lo na prática, e como sabemos que na maioria das vezes as redes não se interessam ou não recebem o recurso necessário para promover esse “treinamento”, cabe o professor se formar por conta própria, e como a se formar por conta própria implica em cometer muitos erros e sacrificar muitos alunos no processo, criamos um caleidoscópio onde cada um “acha que sabe o que é melhor para o sistema educacional brasileiro”. Criamos nas escolas uma contradição terrível que mina o espirito dos que se dedicam ao tema. Por um lado temos que ensinar, mostrar o valor da educação e da cultura, mais por outro desprezamos qualquer tema ligado ao estudo. Vivemos a “anti-meritocracia”, somo encantados pela nefasta teoria dos “dons” onde bons alunos não precisam estudar, onde o conhecimento flui como maná divino aos escolhidos cabendo aos demais apenas se esforçarem para não saírem da escola analfabetos. Já os que não aprendem, bom são “especiais” filhos de prostitutas ou traficantes, destinado ao mesmo oficio paterno e materno. Enquanto nosso professor estuda cada vez menos e parece se orgulhar disso, cada vez mais cursos a distancias extremamente mal estruturados e por vezes até irregulares veem se proliferando causando uma avalanche de pseudos-graduados. Enquanto esses cursos se proliferam, as boas faculdades e universidades assistem seus alunos minguando atraído pela facilidade dos preços e pela pouca exigência e são obrigadas a fecharem suas licenciaturas e pós-graduações.

Como retrata aquele velho adagio grego: São cegos guiando cegos pela beirada do precipício.

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