Educação para o suicídio… cultural

 

Uma cidade que não sabe quem é, nem quem quer ser

 

cego guiando cego

Notamos que nas últimas duas décadas a educação lagoinhense obteve notórios avanços e significativas conquistas. Basta lembrar a situação nos anos 80 da 1ª etapa do Ensino Fundamental, que abrangia da antiga 1º até a 4º série, pouquíssima capacitação aos docentes, na zona rural precárias escolas e na cidade prédio compartilhado com os outros segmentos, além das absurdas taxas de reprovação tão em volga na época.

Já a Educação Infantil fundada por pioneiras docentes que enfrentaram por mais de uma década a mais completa falta de estruturação pedagógica e financeira, tendo as classes funcionando em diversos locais adaptados, como um salão na casa paroquial local, ou alguma sala anexa de propriedade da Prefeitura Municipal responsável na época sem ajuda da União de arcar com todas as despesas de custeio daquela modalidade de ensino. Daquele tempo até hoje ganhamos mais duas escolas, e temos mais duas em construção, atualmente todas as escolas possuem biblioteca, laboratório de informática e mobilharia e salas suficientes para atender a todos os alunos. A ampla rede de transporte escolar formada na década de 90 hoje atende a todo o município, valendo inclusive sérias punições administrativas e criminais ao prefeito que se recusar a oferecer transporte a algum aluno entre 6 e 14 anos.

Do ponto de vista qualitativo objeto deste artigo é que devemos nos ater; Temos dois problemas em nosso sistema educativo, um de natureza ideológica e outro de natureza conceitual ou no nosso caso, procedimental-conceitual.

Nos dedicamos ao primeiro, o ideológico: O município sofre hoje um problema de “bipolarismo identitario” em resumo queremos ser o último reduto caipira do estado de São Paulo (título que hoje pertence a São Luiz do Paraitinga, mais devido as suas modernidades carnavalescas, esta ameaçado) e ao mesmo tempo nos intitular-nos uma cidade de costumes e atitudes modernas. Como já disse em artigos anteriores temos um complexo de funil, achamos que tudo que ocorre de importante na cidade deve se localizar em volta da praça central, lembremos da atitude da mudança da biblioteca municipal em 2006 quando a administração alegou estar trazendo a biblioteca para mais perto da população, ou atualmente a instalação do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) instalado recentemente onde funcionava a Secretaria Municipal de Educação perto da agência bancaria e sob o mesmo pretexto de proximidade da população. Pois bem tal complexo ou ideologia se esboça em quase todos os aspectos do espirito lagoinhense, desde a manutenção do Centro de Exposição Agropecuária na região central, com todos as benesses e malefícios que isso traz até a organização de todo tipo de evento que obrigatoriamente ocorre na “praça”.

Nosso bipolarismo aliado ao complexo de funil gerou no panorama educacional um estranho se não bizarro efeito; pois vejamos, com o fechamento das escolas rurais (fato digno de aplausos já que muitas escolas nem energia elétrica possuíam) todo ensino foi centralizado na zona urbana, na época a prefeitura alegou que o número diminuto de alunos impossibilitava a construção de um núcleo rural, o que é verdade se levarmos em conta o numero de alunos e a esparsa distribuição dos mesmos pelos bairros rurais, núcleos rurais seriam economicamente inviáveis e não amenizariam em nada o transtorno das longas viagens até a escola. As consequências da transferência foram significativas, o alunado da zona rural que antes estudava numa escola que como já falamos nem tinha luz elétrica hoje possui acesso a: Professores dedicados a sua série especifica (lembremos as salas eram multisseriadas um professor para atender ao mesmo tempo da 1ª a 4ª série ), possuem atendimento odontológico, fonoaudiólogo e psicopedagógico . Alunos com necessidades educacionais especiais tem atendimento em instituição própria, merenda com acompanhamento de nutricionista além de refeição balanceada, inclusive com sobremesa.

Desde de 2005 a rede municipal oferece todo o material didático e uniforme aos alunos e a rede estadual também vem constantemente oferecendo quase que totalmente os materiais aos seus alunados.

Os alunos desde a Educação Infantil até ao Ensino Médio tem contato na escola com computadores, tendo a rede municipal contratado empresa para prestar o serviço de computação educacional em sua rede de ensino. As taxas de reprovação cairão sensivelmente e o aumento da qualidade da educação dada a nossas crianças melhorou sensivelmente, fato refletido nas ultimas notas do SARESP que a rede municipal conquistou nas provas da avaliação estadual em 2010.

Contudo na cerne ideológica de nosso sistema de ensino pulsam nosso “bipolarismo” pois sendo um município com forte cultura rural, estamos a moldar nosso jovens da Educação Infantil ao Ensino Médio e até depois deste, a profissões e estilo de vida tipicamente urbanos, só capazes de serem satisfeitos em grandes centros. Obviamente os reais motivos vão além da educação e se sustentam na esfacelada economia rural e péssima visão que o campo possui em nossa sociedade, sempre ligado ao atraso e a privações. Mais o fato é que estamos bombeando todo fluxo intelectual de nossa cultura para formar os futuros cidadãos de Taubaté ou de qualquer outra metrópole regional em nossa proximidade. Nossas zonas rurais estão ficando vazias não só de moradores mais também de cultura. E com esse impulso ideológico e pedagógico tendem a piorar ainda mais.

O outro fato que compromete a qualidade da educação em Lagoinha seria o caso procedimental-conceitual, vejamos como isso ocorre: Como na maioria das cidades do interior brasileiro Lagoinha sofre de um intenso processo de “prefeiturização” dos serviços educacionais, como metade dos alunos esta na rede municipal e a outra metade faz uso do transporte, merenda e outros serviços vinculados a educação municipal a prefeitura tem forte influência nos rumos da educação. Contudo como a cadeira do chefe do executivo é renovada a cada quatro anos, o problema da descontinuidade é uma praga de solapa projetos e põem a perder boas chances de sucesso na educação, isso, ainda é consequência do “bipolarismo identitario” pois como não sabemos quem somos e nem quem queremos ser, não possuímos objetivos claros para a educação municipal e ela sofre aos sabores do desejo de prefeitos e secretários de educação, vejamos o último exemplo quando o poder executivo cancelou o transporte universitário aos estudantes que se graduavam em Taubaté. Obviamente que a municipalidade não era obrigada a oferecer tal beneficio mais isso se consistia em uma politica de estado no intuito de aumentar o número de lagoinhenses com curso superior. Embora atualmente ainda seja oferecida uma generosa ajuda aos estudantes, acreditamos que isso aconteceu mais pela pressão dos jovens graduandos que organizarão inclusive a primeira manifestação popular na cidade, com direito a apitos e panelaços, do que as benesses do executivo.

Também não vemos um plano estruturado para promover a educação em tempo integral, que de maneira experimental se instalou na rede municipal no ano passado, mais que atualmente parece não ter mostrado nenhum progresso e ainda veem se demonstrando um projeto frágil que dificilmente sobrevivera a uma futura mudança de gestão municipal. Seria a tão necessária Educação em Tempo Integral sonhada por Anízio Teixeira uma mera quimera pedagógica para os alunos lagoinhenses?

Vale lembrar que em Lagoinha, já tivemos, aula de musicalização infantil, capoeira para alunos com necessidades educacionais especiais, inglês e aulas de educação física para todos os alunos da Educação Infantil. E que hoje já não temos.

Aliado as altas taxas de analfabetismo adulto e os baixíssimos níveis de leitura que a biblioteca municipal registra em empréstimos de livros, não nos anima em nada nosso futuro que vê a sombra do subdesenvolvimento cultural estacionar em nossa cidade, enquanto suas vizinhas progridem independentemente da desculpa que demos ao sucesso destas e ao nosso fracasso.

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